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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Conheça as 68 vinícolas brasileiras com prêmios internacionais no horizonte do World Ranking Wines & Spirit 2015 – o ranking dos rankings



Por Rogerio Ruschel (*)
No mundo do vinho existem muitos concursos, e a World Association of Wine Writers and Journalists - WAWWJ (Associação Mundial de Jornalistas e Escritores sobre Vinhos, em livre tradução) organiza anualmente o World Ranking Wines & Spirit, que soma a pontuação das empresas vinícolas e dos vinhos a partir dos prêmios conquistados em concursos internacionais durante o ano anterior. Acompanhe a seguir o desempenho do Brasil na Edição 2015 neste ranking dos rankings.
Em 2014 foram realizados 431 concursos de vinhos no mundo (490 em 2013); destes a WAWWJ coletou os dados de 75 deles, mais importantes. Para a consolidação do World Ranking Wines & Spirit 2014 foram avaliados mais de 650.100 vinhos de todo o mundo. O Brasil melhorou no ranking geral – em 2015 fomos o 13o. pais do ranking, uma evolução de 10 pontos, porque em 2014 haviamos sido o 23o. pais mais premiado (veja no quadro acima). Mas talvez o mais significativo indicador do desempenho de nossa indústria no ano passado foi que melhoramos horizontalmente. Explico: em 2013 apenas 32 produtores brasileiros tiveram seus vinhos premiados internacionalmente, número que saltou para 68 em 2014 – mais do que duplicamos.
Os resultados do Ranking 2015 mostram que 68 vinícolas brasileiras conquistaram 305 prêmios internacionais em 2014 (183 em 2013) totalizando 8814,70 pontos, e que a Cooperativa Vinícola Garibaldi foi a mais premiada, desbancando a Cooperativa Vinícola Aurora, vencedora em anos anteriores. Veja no quadro acima a lista das 15 vinícolas brasileiras mais premiadas em 2014. Um benefício secundário deste primeiro lugar da Vinícola Garibaldi é que a empresa reitera o relacionamento da cidade com o produto espumante no próprio nome, porque Garibaldi é considerada a capital brasileira do vinho espumante. Segundo o Ranking Wines & Spirit 2014, em 2014 a Cooperativa Vinícola Garibaldi conquistou 25 prêmios em 9 competições internacionais, alcançando a pontuação total de 851,16 pontos. Em segundo lugar aparece a Cooperativa Vinícola Aurora, com 32 prêmios e 845,59 pontos em 11 concursos, e em terceiro lugar a Cia Piagentini com 20 prêmios e 689,61 pontos em 4 concursos.
Muitos vinhos brasileiros entraram na lista – veja no quadro acima os 15 melhores colocados. O rótulo brasileiro mais premiado foi o Marcus James Espumante Brut, da Vinícola Aurora que venceu 7 concursos totalizando 216,07 pontos – um pouquinho mais do que o Garibaldi Espumante Prosecco Brut, da Vinícola Garibaldi, que conquistou 5 premios e totalizou 212, 13 pontos.
Aliás, estas duas vinícolas disputam palmo a palmo a premiação internacional, tendo cada uma delas conseguido incluir dois vinhos na lista dos Melhores Vinhos do Ano, da qual fazem parte todos os vinhos que tenham recebido uma pontuação mínima de 125 pontos, o equivalente a cerca de quatro medalhas de ouro em competições internacionais - veja no quadro acima. No ano de 2014 o Brasil havia emplacado também quatro rótulos nesta lista, dos quais três eram da Vinícola Aurora (Aurora Moscatel, Aurora Reserva Merlot 2011 e Marcus James Espumante Brut) e um da Cooperativa Vinícola Garibaldi, o Garibaldi Espumante Moscatel.
Eu brindo a isso!
Para ver detalhes do World Ranking of Wines and Spirits 2015 acesse

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Jovens espanhois criam vinho de cor azul índigo para “reinventar tradições”; será que harmoniza com uma saladinha de Smurfs?



Por Rogerio Ruschel (*)
Um grupo de seis jovens empresários do Pais Basco, Espanha, desenvolveu e lançou no mercado um vinho para “mudar as coisas”: um vinho na cor azul, de um azul muito bonito que tem atraído artistas e espantado as pessoas que o degustaram em testes cegos (veja abaixo).

Os jovens empreendedores pensaram no produto em 2013, e com o apoio da Universidade do País Basco (UPV) e do departamento de pesquisa de alimentos da agência de tecnologia do governo basco Azti Tecnalia, decidiram fazer alguma coisa diferente. "Nós éramos seis jovens rapazes, com idades entre 22 e 28 anos, que estavam procurando por um produto que nós pudéssemos representar ou fazer. Algo novo, inovador, revolucionário, rebelde, se você quiser chamá-lo assim. Não temos nada a ver com o mundo do vinho, não tínhamos nenhuma relação com o setor.” disse Vitoria Imanol Lopez. “E acabamos pensando em um vinho azul, um vinho rebelde. Por quê azul? Por que não?".


O processo levou dois anos até que chegassem ao Gik, nome que deram ao vinho, que teve suas primeira garrafas degustadas em dezembro de 2014. Eles utilizam uvas tintas e brancas da região de Bierzo, Espanha, e a cor azul foi obtida através de um processo tecnológico de pigmentação, que, segundo dizem, não altera o sabor do vinho que ficou "doce, muito diferente de qualquer vinho tradicional, e com teor alcoólico de 11,5 graus". Delicado, parece que tem agradado mulheres.


Embora pareça um vinho desenvolvido para harmonizar com calças jeans ou com uma saladinha de Smurfs, os criadores acreditam que o Gik foi feito para quem quiser experimentar algo novo. No site onde o produto é vendido eles dizem simplesmente isso: “Al beber Gïk, estás bebiendo la posibilidad de crear tus propias normas. Estás reinventando tradiciones. Por eso, no te vamos a decir cómo beber el vino. No te vamos a decir con qué combinarlo, dónde ni cuándo disfrutar de él. No queremos que hagas un curso de cata, ni obligarte a estudiar la biblia de la enología. Sólo disfruta.”

Poder ser uma modinha passageira como o restaurante parisiense que serve vinho em mamadeiras, mas neste sentido os criadores tem o meu apoio: finalmente um vinho para beber, sem ter que se preocupar excessivamente com técnicas de degustação. Uma garrafa está custando um pouco mais de oito Euros, o preço de um bom vinho espanhol do tipo “convencional” como um bom Rioja . Conheça o vinho em https://gik.blue/  Enfim, brindo à coragem de pensar de maneira diferente porque o mundo do vinho está mesmo cheio de mesmices e chatices.
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas em São Paulo, Brasil, onde os vinhos ainda são tintos, brancos, rosé ou espumantes;
--> às vezes algum laranja...

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Veja como a Città del Vino promove o território, a identidade e a excelência para manter os vinhos e o enoturismo da Itália no mapa dos melhores do mundo


Por Rogerio Ruschel (*)

Exclusivo – Entrevista exclusiva de Paolo Benvenuti, diretor da Città del Vino, a Rogerio Ruschel.

Meu prezado leitor ou leitora, quero te apresentar Paolo Benvenuti, um grande sujeito e uma conhecida personalidade da vitivinicultura italiana e europeia, diretor executivo há muitos anos da Associação Italiana de Cidades do Vinho – a Città del Vino - a maior e mais eficiente associação de produtores de vinho do mundo. Conheci Benvenuti pessoalmente em um congresso de enoturismo em Portugal, quando participei de uma mesa de debates junto com ele, mas já conhecia a Città del Vino e os leitores também, porque In Vino Viajas já publicou várias pesquisas produzidas por eles (veja no fim da reportagem). 

A Città del Vino reúne milhares de pessoas e organizações em municípios que tem sua economia fortemente influenciada pela vinicultura na Itália. Entre seus associados estão 560 prefeituras, centenas de produtores responsáveis por 80% dos vinhedos italianos com certificação de origem (200.000 hectares DOC e DOCG), a maioria de pequeno porte; 4.052 hotéis que empregam 142.000 pessoas; 1.500 hotéis-fazenda de agriturismo com 18.000 camas; 189 campings e locais para campismo; e centenas de restaurantes, bares de vinho, lojas e adegas de qualidade. (Na foto abaixo, Anticoli Corrado, com 943 habitantes, no Lazio, próximo de Roma).

A Città del Vino é uma organização cuja missão é fazer respeitar e promover a identidade do vinho italiano, em um ambiente de excelência técnica. Como nós sabemos, o vinho tem identidade própria, construída pela tradição, herdada do território, do terroir, da comunidade e do talento dos que o produzem. Embora produza vinhos comercialmente desde 1875, o Brasil começou a se preocupar com a identidade de seus vinhos apenas há 10 anos, com a busca por IGs e DOCs. Esta inércia, aliás, é uma das causas dos brasileiros terem preconceito contra o produto nacional e também de nosso baixo sucesso internacional: como vinho é um produto cultural e é impossivel querer que outros povos dêem valor a um produto que nós mesmos não valorizamos, só nos resta competir em preço ou encontrar pequenos nichos como o dos espumantes.

Uma organização com o perfil da Cittá del Vino - que trata o vinho como alimento e o posiciona como elemento cultural de uma comunidade e não apenas um produto “de agribusiness” - poderia ser o vetor institucional desta tarefa no Brasil. Então, quando tivermos forças para romper a inércia e unir produtores, prefeitos, hoteleiros, restauranters e lideranças dos trades do vinho, do turismo e da cultura no Brasil num mesmo projeto de longo prazo acima de partidos, regionalismos e outros interesses menores, talvez o modelo organizacional da Cittá del Vino possa nos inspirar.
 
Os números da Cittá del Vino impressionam. Embora tenha que lidar com milhares de italianos parlantes, normalmente agitados e apaixonados por seu próprio vinho (que sempre é melhor do que o do vizinho), Benvenuti é uma pessoa extremamente calma, com a paciência de quem vive na Toscana e com o sentido de tempo afinado para respeitar os lentos ciclos da natureza e as tradições, como a expressa pela paixão dos italianos pelo minúsculo Cinquecento da foto acima.
Com a palavra meu amigo Paolo Benvenuti.

“Somos uma rede de pequenos municípios que tenta reduzir a parte negativa da globalização.”
 
R. Ruschel – Paolo, quem é a Cittá del Vino?
Paolo Benveanuti – “A Associação Italiana de Cidades do Vinho foi fundada em 1987, um ano após o estabelecimento do Slow Food e do lançamento da primeira edição do Guia de Vinhos italianos. Revendo os anos oitenta e as profundas mudanças que estão ocorrendo na agricultura e viticultura desde lá, "Città del Vino" é o intérprete destas inovações porque tem o objetivo de dar voz aos territórios, as pequenas cidades e a quem está no campo, a fim de torná-los protagonistas do desenvolvimento econômico, levando em conta os valores das comunidades locais, especialmente no domínio dos serviços, a partir de alimentos para o turismo. Somos uma rede de pequenos municípios que tenta reduzir a parte negativa da globalização.“

“A excelência dos vinhos italianos é obtida em pequenas cidades: Montalcino (foto acima), onde é produzido o Brunello, (talvez o mais famoso vinho do mundo) tem apenas 5.000 habitantes; Barolo e Barbaresco, em conjunto, não excede estes números. 80% dos municípios associados a Città del Vino, um total de 500, tem menos de 10.000 habitantes. A vinicultura dá força às áreas rurais. A Associação representa todas as regiões vinícolas italianas, é a maior rede de cidades de preservação de valores, de identidade, a primeira na Europa e no mundo. No sentido mais político e administrativo, os municípios representam o primeiro nível - e talvez o mais importante - de um governo democrático sobre os territórios e os interesses das suas comunidades, empresas e cidadãos, que devem trabalhar em conjunto para o desenvolvimento econômico e social sustentável da sua própria realidade. Na foto abaixo, a vila de Barolo, no Piemonte.
 
R. Ruschel – Como trabalha a Associação? Qual o valor da mensalidade para os associados?
Paolo Benvenuti - “A Associação opera através de uma empresa de serviços – a CI.VIN.Srl - com colaboradores e parceiros, e faz a gestão da comunicação da marca (na internet e redes sociais, em impressos em publicações on-line) e outras principais atividades. As principais são a competição internacional de vinhos "Selezione del Sindaco ", a principal da Itália e uma das maiores do mundo e o "Calici di Stelle",  o maior evento de verão entre produtores de vinhos de cidades italianas realizado na noite das estrelas cadentes, em 10 de Agosto; este evento é realizado em parceria com o Movimento Turismo del Vino. Nós também buscamos oportunidades de experiências reais com estágios específicos para jovens enólogos e outras atividades técnicas.

“A Cittá del Vino se mobiliza no caminho cultural, político e estratégico como uma união de territórios italianos de vinho.”

Por outro lado, a Associação está se movendo no caminho cultural, político e estratégico, como uma união de territórios italianos de vinho. Ela funciona sobre os seguintes temas: planejamento urbano, paisagem e alimentos e turismo do vinho. É a única associação na Europa a ter um Observatório do Turismo do Vinho, que produz anualmente um relatório sobre o assunto. Na foto abaixo a equipe de organização e julgamento dos vinhos participantes do concurso internacional Selezione del Sindaco 2015, da Cittá del Vino, reunida no Palácio Marquês de Pombal, em Lisboa.

A Associação também mantém forte relacionamento com a Recevin (a Rede Europeia de Cidades do Vinho) e com uma pequena alteração no Estatuto, todas as cidades italianas de vinho também serão um membro desta associação europeia, e a partir disso se associarão também a AENOTUR (que você conhece e vem divulgando com frequência) e apoiarão a Rota Cultural Europeia Iter Vitis.

A Cittá del Vino também é uma instituição cultural com a "Biblioteca das Cidades do Vinho" que já reúne mais de 3.000 volumes e com uma exposição permanente de arte moderna dedicado ao vinho. Os municípios associados pagam uma taxa anual com base no número de habitantes: a partir de 100 €, para os municípios que têm menos de 500 habitantes chegando a 2.673 € para os municípios com mais de 20.000 habitantes.“ Na foto abaixo viela de Montepulciano, pequena cidade com vinhos excelentes - foto de Mário Ventura.

“A Itália tem 403 vinhos com Denominação de Origem e 118 com Indicações Geográficas e utilizamos cerca de 500 diferentes tipos de uvas para produzi-los”

R. Ruschel – Quais os beneficios dos associados?

Paolo Benvenuti – A vinicultura italiana é talvez uma das mais ricas e complexas do mundo: temos 403 vinhos com Denominação de Origem e 118 com  Indicações Geográficas. Cerca de 500 diferentes tipos de uvas são necessárias para produzir estes vinhos e todas elas estão inscritas em um  Catálogo Nacional além de outros milhares de pequenas castas de uva locais. Temos mais de 5.000 feiras e festivais dedicados ao vinho todos os anos na Itália, e centenas de museus e adegas públicas. Estes são valores que têm de ser protegidos e promovidos pela Cittá del Vino. Em todas as regiões italianas a produção de vinho dá à luz micro ou macro economias, culturas, ambientes e paisagens, cada uma diferente da outra. Estudamos esses fenômenos, destacamos as culturas e as melhores práticas, desenvolvemos habilidades que podem ser compartilhados. E compartilhamos tudo isso com uma boa comunicação. “ Na foto abaixo um vinhedo plantado com uma técnica de 3.000 anos de cultivo da Ilha Pantelleria, a “vite ad alberello”, que foi tombada como Patrimônio Mundial da Humanidade da UNESCO.


R. Ruschel – Quais são os compromissos de uma Cidade do Vinho associada?
Paolo Benvenuti - No estatuto da associação adotamos uma "Carta da Qualidade das Cidades do Vinho", que pretende representar nossas metas e compromissos que uma cidade deve tomar para melhorar a viticultura e a produção de alimentos e vinho, na convicção de que todas as Cidades do Vinho têm um traço comum que os une, mas cada um deles pode e deve ser diferente do outro. Os princípios são dez: proteger o vinho e sua paisagem; simplificar os procedimentos administrativos para as empresas no setor do vinho; esclarecer o papel do vinho e da percepção; disponibilizar a cultura do vinho; participar de rotas do vinho; abrir as adegas; oferecer os vinhos em restaurantes; inserir os vinhos em seus ambientes; produzir o vinho com criatividade; e participar o mais possível do calendário do vinho. “ Na foto abaixo Benvenuti comanda o evento de entrega dos prêmios “Selezione del Sindaco”.


“Se a qualidade de vida do cidadão em sua comunidade é positiva, ele tem que fazer com que isso seja percebido pelos outros”

R. Ruschel – Como a
Cittá del Vino universaliza o enoturismo?
Paolo Benvenuti - A valorização da cultura do vinho não pode ser improvisada. Hoje existem relativamente poucas áreas nas quais você não sente que está em um lugar "excepcional" do ponto de vista do vinho e sua cultura. Isso não significa apenas ter vinícolas, mas ter todo um sistema que funciona em torno do vinho. Um dos mais belos projetos que estamos promovendo é o "Cellars sem Barreiras" (adegas sem barreiras), um projeto que visa a remoção de dificuldades físicas e melhorar o acesso às caves de vinho e territórios para as pessoas com deficiência, os cadeirantes. Além de estar na moda e ser amplificado pela mídia, atender deficientes é uma atitude turística mas principalmente de cidadania, porque  o turista não pode ser tratado como um cordeiro indo para o matadouro. O nosso trabalho vai nesse sentido: se a qualidade de vida do cidadão em sua comunidade é positiva, ele tem que fazer com que isso seja percebido pelos outros - especialmente em um território de vinho.

R. Ruschel – Como a Cittá del Vino contribui institucionalmente com a indústria de maneira geral?
Paolo Benvenuti – “Há mais de 15 anos nós estabelecemos o Observatório do Turismo de vinhos em colaboração com várias universidades e com a organizacção de pesquisa italiana "Censis". (Acima um quadro de pesquisas realizadas pela Cittá del Vino, já publicadas por In Vino Viajas.) Estes relatórios têm fornecido um apoio valioso para identificar a oferta e a procura e estabelecer diretrizes para as empresas em geral que estejam em territórios de vinho. A Cittá del Vino tem contribuído, em seguida, para a lei italiana sobre roteiros do vinho e com o texto da Carta Europeia de Enoturismo. Em 2016, a Itália vai sediar a parte européia do Congresso Internacional de Turismo do Vinho e uma cidade italiana será nomeada "Cidade Europeia do Vinho". Na foto abaixo, Paolo Benvenuti.


R. Ruschel – Como você percebe a industria do vinho no Brasil?
Paolo Benvenuti - “O Brasil é um grande mercado emergente para vinho e turismo do vinho, uma base importante para o desenvolvimento e a cultura do vinho. Nós nos sentimos ligados pela história e pela amizade: a cidade de Garibaldi já está irmanada com Conegliano Veneto. Tudo isso só tende a se desenvolver e eu acho que existem as condições adequadas para a criação de uma rede de produtores brasileiros de vinhos de padrão internacional, a fim de incentivar o conhecimento, o diálogo e os intercâmbios. Afinal de contas o Brasil foi o país anfitrião da edição de 2015 de "La Selezione del Sindaco", e os seus vinhos se destacaram em qualidade. Além disso, houve o Congresso de Aenotur em Viana do Castelo e Ponte de Lima em Portugal com forte presença de brasileiros. Eu acredito que nós podemos seguir em frente, neste caminho.”

Você tem razão, Paolo, grazie tanto! E eu brindo a isso.

Veja pesquisas da Cittá del Vino já publicadas por In Vino Viajas aqui – http://migre.me/rfvkw - aqui http://migre.me/rfvmv  e aqui http://migre.me/rfvnA
(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas e admirador do trabalho de pessoas e organizações que respeitam o talento e valorizam a cultura comiunitáriamente.
 




terça-feira, 18 de agosto de 2015

Conheça as 5 megatendências do turismo gastronômico mundial e os impactos na vida social, cultural e econômica que vêm de carona


Por Rogerio Ruschel (*)
Exclusivo – Entrevista com Luís Rasquilha. Meu prezado leitor ou leitora: para felicidade geral a gastronomia é cada vez mais valolrizada e está provocando uma verdadeira revolução econômica, social e cultural em todos os rincões do planeta. Na feira livre das ruas (ou dos rios, como na Tailândia, foto acima) e no cardápio dos restaurantes o ato de alimentar-se ganhou qualidade e hoje é uma mania que invadiu a midia: são chefs brilhando na televisão, cursos de culinária que atraem milhares de cozinheiros amadores (como os da foto abaixo), feiras de produtos orgânicos ou diferenciados, certificação de origem de alimentos e uma enorme onda de food-trucks e bike-trucks nas grandes cidades.
E o assunto está mais complexo porque cada comunidade pode ter sua própria atração alimentícia, como os famosos 2.500 tipos de queijos da França – que harmonizam com 2.500 tipos diferentes de vinhos, é claro....


Os brasileiros dos grandes centros urbanos já estão surfando nesta onda, comprando produtos importados, enchendo salas e cozinhas de cursos de culinária - e desta maneira descobrimos cada vez mais talentos. E só para lembrar dois dos nossos talentos brasileiros de exportação: Helena Rizzo, do Restaurante Mani, Melhor Chef Feminino da América Latina em 2013 e Melhor do Mundo em 2014 e Alex Atala, do do D.O.M. que está na lista dos 50 melhores do mundo desde 2006 e desde 2012 está sempre entre os 10 mais.

Pois é, a sofisticação da culinária está nas ruas, nas casas e isso evidentemente tem alta importância como elemento no turismo. Aliás, até o dia 18/setembro/2015 o Ministério do Turismo do Brasil estará recebendo propostas para divulgar destinos turísticos com ações que valorizem a gastronomia regional como o churrasco gaúcho da foto abaixo; os projetos selecionados poderão contar com um valor mínimo de R$ 100 mil e máximo de R$ 300 mil para sua realização – veja no site do Ministério.

O valor da gastronomia como atracão turística foi o foco do Congresso Internacional do Turismo de Alimentos realizado de 8 a 11 de Abril de 2015 em Estoril, Portugal, no qual especialistas analisaram as tendências da cultura e do marketing do turismo de gastronomia, que tem crescido sem parar e que é tido como uma das grandes estrelas do turismo moderno, o turismo de experiências. Participaram do evento em Portugal pesquisadores, planejadores de turismo, chefs, cozinheiros, autoridades públicas, dirigentes de mídias e várias entidades ligadas ao turismo de alimentos especialmente da França, Peru, Portugal e Espanha, países com reconhecido sucesso no assunto. O evento foi organizado pela Associação Portuguesa de Turismo e Economia da Culinária, que trabalha na construção de marca de Portugal como destino turístico de alimentos. A cozinha caipira mineira (foto abaixo) é tida como uma das melhores do Brasil.
Uma das mais concorridas apresentações foi sobre “As Cinco Mega-tendências do Turismo Gastonômico” feita pelo especialista brasileiro Luis Rasquilha, CEO da AYR Worldwide e Inova Business School sediadas em Campinas, São Paulo. Rasquilha é professor convidado em Universidades e Business Schools na Europa e Brasil e autor e co-autor de 20 livros técnicos sobre Marketing, Comunicação, Futuro, Tendências e Inovação. Para que você pudesse conhecer estas megatendencias de maneira exclusiva In Vino Viajas entrevistou o professor Luis Rasquilha. Veja a seguir. E por falar em concorrida, acredite: a foto abaixo mostra o movimento em uma Feira Gastronomica do Paço de Manaus…

R. Ruschel – Professor, quais são as cinco megatendências do turismo gastronômico?
Luis Rasquilha – Anote aí. 1. Envelhecimento da população e explosão demográfica. Mais pessoas estão vivendo mais; em 2050 haverá percentualmente mais pessoas com idade superior a 50 anos em uma população de quase 16 bilhões até 2100. Isso vai afetar significativamente nossas escolhas alimentares. 2. Globalização e Conectividade social. Atualmente apenas 20% da população mundial está conectada, mas em 2030, 50% estarão conectados e isso vai mudar a forma de procurar e informar-se sobre alimentos. Deve-se esperar mais aplicativos de internet para a entrega de alimentos, restaurantes e socialização. Na foto abaixo, frutos do mar em um restaurante de Alagoas.

3. Mudanças climáticas. O aumento da temperatura continuará a impactar nossos recursos naturais e a ênfase na sustentabilidade vai dominar a nossa abordagem também na alimentação. 4. Conectividade Intergeracional. Vamos ser definidos como nativos digitais (nascidos após 1990) ou imigrantes digitais (nascidos antes de 1990), com os membros mais jovens da sociedade dominante a influenciarem a forma como usamos a tecnologia para nos comunicarmos. Isto vai mudar tudo, inclusive nossas hábitos alimentares. 5. Saúde e Genética. Como as pessoas continuam a morar em grandes cidades, elas terão de lidar com a depressão, isolamento, obesidade e doenças relacionadas as questões urbanas, como a poluição, ameaças de segurança e falta de espaço. A solução estará na forma do que se pode chamar de fast-food saudável, praticar atividades esportivas e no desenvolvimento de novos medicamentos. Feira livres como essa da foto abaixo podem ajudar bastante na alimentação sadia.
R. Ruschel - Por que são megatendências?
Luis Rasquilha - Por megatendências entendemos as transformações pelas quais o mundo passa e que alteram consideravelmente o status assumido. Estas 5 megatendências são hoje, a par de outras, relevantes para entender algumas das mudanças globais por que passamos. Não só as pessoas estão durando mais tempo como há mais gente no mundo e isso é interessante quando pensamos em dimensões de mercados. Também isso influencia o relacionamento entre gerações que cada dia está mais intenso. O avanço da tecnologia tem alargado a globalização e aumentado os índices de conectividade global, dando a oportunidade de maior circulação de conhecimento e maior interação entre pessoas. O ambiente tem sofrido mudanças permanentes e consideráveis alterando a forma como vivemos no globo. E por fim a saúde e a questão da genética também ten trazido descobertas impensáveis no passado sobre como viver melhor. Estas transformações impactam diretamente o negócio da alimentação seja em termos de comportamento seja em termos de negócio. (Food-truck é para os fracos – em Barcelona o negócio é Gourmet Bus…)
R. Ruschel – Quais são os benefícios do turismo de culinária?
Luis Rasquilha - O turismo de culinária apresenta-se como uma excelente escolha para quem valoriza a questão cultural em viagens, sem perder uma descoberta gastronômica. Se para turistas é um atrativo fantástico, para os agentes do negócio é uma forma de ter mais clientes e explorar mercados até agora deixados em segundo plano. E está provada a sua importância para quem atua no turismo, seja restaurante, hotel, produtor, etc. Entender a especificidade do tema e a sua relevância à luz das tendências, ajudará quem atua neste negócio a melhorar as suas performances e no imite o seu negócio. Para quem viaja sem dúvida pode ser uma experiência inesquecivel. Na foto abaixo o professor Luis Rasquilha – que eu imagino que troque a gravata por um avental com mais frequência…
Um dos grandes temas que dominaram o Congresso Internacional do Turismo de Alimentos em Estoril, Portugal, foi a concordância com o fato de que no turismo de gastronomia o grande diferencial é contar histórias, o conhecido storytelling. Chefs, cozinheiros, jornalistas e blogueiros concordaram que o turismo gastronômico é o ambiente ideal para contar histórias de moradores, da comunidade local, de uma forma consciente e memorável, de relatar experiências de forma intimista para reviver as tradições culinárias de pessoas, comunidades e culturas – como os temperos da foto abaixo.
Concordo plenamente porque é contando histórias, e não apresentando dados sobre uvas, cor, sabor e técnicas de produção de vinhos que In Vino Viajas vem conquistando a atenção e a fidelidade de leitores de bom gosto: atualmente é o oitavo site de vinhos mais acessado no Brasil e o mais internacional de cultura do vinho da América Latina, com leitores em 126 paises. Contar histórias que valorizem o saber comunitário e seu estilo de comer, beber e viver é o caminho para ser local e ao mesmo tempo global. Brindo a isso!

Conheça a história de Ferran Adrià, um jovem pobre que transformou a culinária em arte, foi eleito o melhor chef do mundo 5 vezes e está melhorando nossas vidas; uma história de superação com 20 fotos sensacionais - http://invinoviajas.blogspot.com.br/2014/03/conheca-ferran-adria-o-lavador-de.html

(*) Rogerio Ruschel é editor de In Vino Viajas, adora gastronomia de qualidade mas não convide para cozinhar para você...